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Na brisa suave de uma tarde de outono, Millena chegou ao campo onde o dourado do sol começava a se desfazer em tons suaves de lilás e azul. Era uma jovem de presença firme e segura, sempre encantada com a natureza e com os pequenos detalhes do mundo ao seu redor. Millena vinha de uma família tradicional e fora educada para agir sempre com discrição e compostura. Mas sua mente era inquieta e seu coração ansiava por algo além do que a vida tranquila de sua vila lhe oferecia.
Ao caminhar pelo campo, ela ouviu uma voz cantarolando ao longe. A melodia era doce e melancólica, e, curiosa, ela seguiu o som até uma clareira onde uma figura, de costas para ela, parecia absorta na paisagem. Era Bárbara, a filha do dono de uma propriedade vizinha. Embora já houvessem se visto em eventos sociais, nunca haviam tido a oportunidade de conversar a sós, e Millena só conhecia Bárbara pela sua reputação um tanto excêntrica: a jovem gostava de longas caminhadas sozinha e frequentemente era vista lendo em cantos isolados, desprezando a companhia de jovens que, aos olhos de todos, seriam bons pretendentes.
Bárbara se virou ao ouvir passos e, ao ver Millena, seu sorriso foi caloroso e surpreendentemente próximo, como se já compartilhassem uma amizade íntima. Com um gesto gentil, ela convidou Millena a se sentar com ela na grama, e as duas começaram a conversar, num tom suave, como o murmúrio do vento nas folhas. Bárbara tinha um jeito encantador, com sua visão curiosa sobre o mundo e um entusiasmo por coisas simples e grandiosas, que ia desde a beleza de uma flor desabrochando até os sonhos de viagens distantes.
Enquanto conversavam, Millena percebeu algo em Bárbara que a deixava desconcertada: seu olhar profundo, que parecia despir camadas da alma, e a maneira como sua presença tornava o ambiente mais vibrante. Millena sentia o coração bater mais rápido e, ao mesmo tempo, um calor tranquilo que a envolvia e a fazia desejar que aquela tarde jamais terminasse.
Em certo momento, Bárbara se inclinou levemente, observando Millena com uma expressão de ternura e curiosidade, e, depois de um silêncio compartilhado, disse:
— Millena, há uma bondade e uma força em você que eu nunca vi em ninguém. Sinto que consigo enxergar partes de mim mesma quando estou ao seu lado.
Millena sentiu o rosto corar, pois aquelas palavras pareciam expressar tudo o que ela mesma não ousara dizer. Elas se olharam, e o mundo pareceu diminuir ao seu redor, até que tudo o que existia era aquele instante, aquela conexão entre elas, tão profunda quanto inesperada. Com a mão trêmula, Millena tocou de leve a mão de Bárbara, e, naquele toque, sentiu uma eletricidade delicada e calorosa, como se fosse um pacto silencioso entre seus corações.
As duas passaram a se encontrar com mais frequência, sempre em lugares discretos, onde podiam ser elas mesmas, livres dos olhares julgadores. Durante suas caminhadas e conversas sob o céu aberto, compartilharam segredos, medos, e sonhos que não ousariam revelar a mais ninguém. Era como se cada palavra dita e cada riso partilhado fortalecesse um laço invisível entre elas, um laço de amor e compreensão mútua que transcendia qualquer explicação lógica.
A amizade que floresceu entre elas rapidamente se transformou em algo mais, um sentimento que não precisava ser nomeado, pois era tão natural quanto o sol nascendo todas as manhãs. Era amor — um amor que elas guardariam para si mesmas, protegido e cultivado na simplicidade de momentos roubados, na ternura de olhares e no carinho de toques sutis.
Quando as estações mudaram e o outono deu lugar ao inverno, Millena e Bárbara continuaram a encontrar refúgio uma na outra. Em meio às adversidades e expectativas da sociedade, elas descobriram um amor verdadeiro, profundo e cheio de significado, um amor que seria lembrado e sentido para sempre.
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