A decisão de Maria

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Era uma tarde chuvosa de domingo quando Maria e Carolina se encontraram em um café aconchegante no centro da cidade. Havia semanas que não se viam, e a conversa logo fluiu entre risadas e trocas de histórias. Maria, sempre tímida e reservada, decidiu abrir-se sobre uma promessa que havia feito a si mesma durante o período de isolamento em sua casa.

Enquanto estava presa entre as paredes de seu apartamento, devido à pandemia de Covid-19, Maria decidiu que, assim que tivesse permissão para sair novamente, contrataria um acompanhante. Ela desejava experimentar o sexo pela primeira vez e enfrentar as ansiedades que havia desenvolvido em relação ao amor e à intimidade como uma pessoa com deficiência.

Carolina, com seus cabelos negros e olhos brilhantes, olhou surpresa para Maria. Era uma confissão inesperada, mas ela a ouviu atentamente, apoiando a amiga em seu desejo de descobrir novas experiências. Entre goles de café quente, Maria compartilhou como essa ideia havia surgido durante o isolamento, quando estava acompanhada de uma assistente social chamada Letícia.

Enquanto passavam juntas por aqueles dias difíceis, Letícia ofereceu a Maria uma massagem relaxante. A sensação das mãos de Letícia em seu corpo trouxe à tona uma curiosidade que Maria desconhecia. A assistente social, em um momento de confiança mútua, revelou a Maria que já havia trabalhado como profissional do sexo e sugeriu que essa experiência poderia ser uma opção para ela.

“Acho que você deveria experimentar”, disse Letícia a Maria, que estava sentada à mesa do café relembrando aquele momento. “Essa ideia abriu meus olhos para a possibilidade de explorar algo novo”, explicou Maria a Carolina.

Apesar de nunca ter tido um relacionamento, Maria, com seus 43 anos, sentiu-se impulsionada a buscar essa experiência que poderia ajudá-la a superar suas inseguranças e ansiedades. Em meio a risos constrangidos, Carolina ouviu atentamente os detalhes sobre como Maria encontrou uma agência de acompanhantes online, onde um perfil de um homem chamado Marcos chamou sua atenção.

Marcos era um homem atraente e experiente, com quem Maria marcou um encontro em seu apartamento para a primeira sessão. Carolina ficou maravilhada com a coragem de Maria ao se aventurar nessa jornada de descobertas.

Maria descreveu como se sentiu ao deixar sua cadeira de rodas na porta do apartamento de Marcos. Era uma mistura de medo, excitação e total desconhecimento do que estava prestes a acontecer. Mas, à medida que o encontro se desenrolava, Maria começou a relaxar.

“Sabe, Carolina, eu sou especialista em deficiência”, disse Maria com um sorriso nos lábios. “E Marcos não fazia ideia. Nós rimos da nossa própria ignorância e ingenuidade. Duas horas depois, éramos melhores amigos.”

Carolina olhou para Maria com admiração e curiosidade. Ela percebeu como essa experiência estava transformando a vida de sua amiga.

Maria continuou a compartilhar suas reflexões com Carolina, revelando como essa experiência havia dado a ela um senso renovado de poder e controle sobre sua própria vida. Ela explicou que, como uma mulher com deficiência em um ambiente desconhecido, muitas vezes ela se sentia vulnerável e sujeita a um desequilíbrio de poder. No entanto, com Marcos, ela estava no comando.

“Saber que eu estava pagando por um serviço me deu a confiança de que, se algo não estivesse certo, eu poderia interromper a situação imediatamente”, disse Maria. “Afinal, se ele me tratasse de maneira inadequada ou fizesse algo que eu não gostasse, eu não o contrataria novamente.”

Carolina ouvia atentamente, impressionada com a coragem de Maria em enfrentar seus medos e buscar sua própria felicidade. Ela percebeu como essa experiência havia fortalecido a autoestima de sua amiga, fazendo-a se sentir mais confiante e feliz do que nunca.

Enquanto saboreavam suas xícaras de café, Maria ponderou sobre a importância de reconhecer a sexualidade das pessoas com deficiência. Ela acreditava firmemente que os governos deveriam fornecer suporte e acesso a serviços sexuais para pessoas com deficiência, como uma forma de promover sua autoestima e bem-estar.

“Essa experiência mudou minha vida de maneiras que eu nunca imaginei”, disse Maria com um brilho nos olhos. “Sinto-me mais segura, mais feliz e mais confiante. E não consigo deixar de compartilhar essa transformação com meus amigos e familiares. Todos estão felizes por mim, e esse sorriso no meu rosto não desaparece.”

Carolina sorriu de volta para Maria, sentindo-se verdadeiramente inspirada por sua jornada de autodescoberta e empoderamento. Ela sabia que essa história não era apenas sobre sexo, mas sobre coragem, aceitação e o poder de abraçar quem somos verdadeiramente.

Enquanto se despediam do café, Maria segurou a mão de Carolina com gratidão. “Obrigada por ouvir, por estar ao meu lado e por entender. Esta jornada está apenas começando, e estou animada para ver o que o futuro me reserva.”

As amigas se abraçaram calorosamente, compartilhando um momento de cumplicidade e apoio mútuo. Enquanto caminhavam pela cidade, a chuva cessou e um raio de sol apareceu timidamente, iluminando seu caminho. Ambas sabiam que, independentemente do que o futuro lhes reservasse, estariam lá uma para a outra, prontas para enfrentar o desconhecido e celebrar a vida em todas as suas formas.

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